sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Nice to see you, may I borrow your knife?

Meu primeiro contato com Yoshitomo Nara foi no 2º semestre, durante a disciplina STCHA com a Renata Azambuja. Para o trabalho final, precisávamos escrever um ensaio sobre um/a pintor/a contemporâneo/a. Calourinha como era, não fazia a menor idéia de como escrever isso e muito menos sobre quem escrever, já que nunca tinha pensado mais profundamente a respeito dos meus artistas favoritos (eu  só sabia que adorava o Monet) e influências em geral. Não lembro mais porque raios escolhi o Nara, acho que tropecei nele no meio do caminho ou algo do tipo. O fato é que, olhando hoje, o trabalho dele é o que mais aparece na minha própria obra, e vai além do estilo (minha forma de desenhar olhos totalmente deriva da dele). A questão do infantil sempre foi muito presente nos meus interesses artísticos, logo no início do curso almejava fazer ilustrações para livros infantis (e quem sabe escrever também), mas isso foi se perdendo e o que remanesceu foi todo um pensamento conturbado em cima da imagem de crianças.

Esse é o primeiro parágrafo do meu ensaio, que introduz não só as obras de Yoshitomo Nara, mas as minhas próprias:
“Memórias dolorosas e por vezes irritadas de infância, uma infância solitária e talvez sem muitos bons exemplos por parte dos adultos. Há o constante embate entre a vulnerabilidade das crianças de Nara e a agressividade de seus olhos e instrumentos que carregam. São cabeças exageradamente grandes, numa vista abaixo da sua, encarando como se pudesse atacar a qualquer momento. Mas ao mesmo tempo, com uma pequena faca e pernas quase recuando, que tipo de ataque seria? Para o expectador, ao ultrapassar a expressividade do olhar da criança, resta um sentimento de afago, vendo um infante indefeso, com olhar que se transformou de repente naquele de quem acaba de ser acordado de uma soneca. Porém, essa empatia que se tem com a criança acaba por consolidar de fato a frustração por ser tão pequena, por estar tão isolada em seu eu infantil.”
Maíra Figueiredo, 2008.
Yoshitomo Nara, Nice to See You Again, 1996, Acrylic on canvas, 180cm x 150cm.


Este é um desenho que fiz no espaço físico do CAVIS, fotografado depois de muito tempo e já com algumas intervenções. Fiz a partir de um desenho do meu finado moleskini prateado. Primeiro tentei marcar mais ou menos com lápis na parede, depois desisti e fiz direto no pincel mesmo. Fiquei bastante feliz com o resultado final:

Maíra Figueiredo, Mas é claro que a gente pode ficar desajustado, 2010, tinta guache sobre parede, aproximadamente 1,70m x 1,00m.

Por fim, aproveitando a deixa das crianças do Yoshitomo Nara, hoje tirei meu dente ciso, ou dente do juízo.  Não pude deixar de lembrar dessa pintura:


Yoshitomo Nara, This is how to become an Adult, 1996, Acrylic on canvas, 100cm x 100cm.




Para pesquisar imagens do Nara, não recomendo o google at all, procurem no flickr e no yahoo!